quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Cop-15, a bela participação brasileira e o jogo de empurra

Copenhague. Dezembro de 2009. Estavam reunidos na capital dinamarquesa os representantes dos principais países do globo, com o Brasil com um papel de relativo destaque. Muita discussão, pouquíssima boa-vontade, muito posicionamento defensivo e poucas, muito poucas, deliberações. O planeta vai ter que esperar mais uma vez. Até quando? Não se sabe.

Dentre as poucas coisas que pode-se destacar de positivo nesse encontro está a posição do Brasil. O país chegou a reunião não só com promessas e compromissos, mas com avanços concretos já realizados. A diminuição em 90% do desmatamento da amazônia, por exemplo. Esse “trunfo na manga” deu ao Brasil autoridade para falar alto e, principalmente, para ser respeitado como um dos principais países na referida reunião.

Tal fato é mérito de todos os brasileiros, do atual governo de uma forma geral e, principalmente, do ministro do meio-ambiente: Carlos Minc. Este trava uma luta constante dentro do próprio governo, assim como fazia sua antecessora Marina Silva. Só que ele parece ter tido mais maestria em driblar a resistência dos setores mais retrógrados do governo (ruralistas, principalmente) e conseqüentemente impôs certos avanços na questão do desmatamento. Ele é, sem dúvidas, o principal responsável pela gigantesca diminuição no desmatamento da Amazônia.

Para melhorar, o Brasil utilizou-se da moral e do respeito que adquiriu por conta de seus avanços isolados e propôs diversos outros avanços em conjunto com outros países. Além, claro, de conseguir melhorar, ainda que pouco, o texto final da Cop-15, apesar da resistência dos principais países desenvolvidos.

Já no lado negativo, podemos destacar a posição do Nobel da Paz, Barack Obama, e seu país. Pode-se dizer que ele foi, no mínimo, displicente na questão climática. Há quem diga que ele, Obama, apenas representava a opinião de uma elite conservadora norte-americana. Disso, não há dúvida. Só que ninguém disse que ser agente de mudança em uma sociedade completamente retrógrada e egoísta como a norte americana seria fácil. Não é. E continuará não sendo. E Obama com sua omissão ou conivência (ou ambos), foi um dos principais (para não dizer o principal) responsáveis pela fiasco da reunião. Sobretudo por que ele é representante da nação que historicamente mais contribuiu (e contribui) para o desarranjo climático. Os EUA vieram com disposição a mudar pouco sua postura em relação a poluição. E “pouco” é até generosidade, pois na prática a disposição de mudar era NENHUMA, lamentavelmente.

Para completar o circo em que se transformou Copenhague, a postura defensiva e acomodada da União Européia foi a “cereja do bolo”. A postura européia fez lembrar a “guerra do presunto” do filme Tropa de Elite (para quem não lembra: um trecho do filme mostra a luta dos batalhões da PM para “empurrar” assassinatos ocorridos em suas áreas de atuação para a área de responsabilidade de outros batalhões, fazendo com que isso diminuísse os índices de criminalidade de suas áreas). A UE disse que nada podia fazer na COP-15 em função do posicionamento norte-americano, culpando, assim, os EUA pelo falta de posicionamento europeu. Isso tudo como se o planeta fosse esperar a boa-vontade de ambos. Postura igualmente deplorável. Pode-se dizer até que é pior do que a posição norte-americana, pois a posição européia é, além de tudo, revestida de hipocrisia.

O planeta vai esperar. Mais uma vez. Esperarão, também, os terráqueos. Todos esperarão a boa-vontade do Nobel da Paz, de seu país, da União Européia, etc. A torcida é para que o planeta não canse de esperar e também para que os terráqueos, esses sim, cansem de esperar e façam, cada um, a sua parte.


Por Hugo Araujo

24/12/2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

BLINDAGEM À BRASILEIRA

            Hoje o mundo vive um período de extrema crise, uma das piores dos últimos tempos, e como sempre foi de praxe na história de nosso país, esperava-se que ela chegasse por aqui de forma rápida e com mais força do que tinha aonde surgiu. Isso não ocorreu. E quais são os motivos para isso não ter acontecido? 

            Antes de enumerá-los é necessário que fique claro que não se pretende nesse texto afirmar que a crise não teve, e não terá, conseqüências na economia brasileira. É óbvio que já teve e que provavelmente terá ainda mais.

            Por outro lado, é inegável que enquanto a crise está a mil por hora nos Estados Unidos, no Brasil ela não teve por enquanto graves conseqüências. A prova disso é que o desemprego, segundo o Dieese, recuou 13% mesmo em meio à crise, atingindo com isso o menor patamar desde 1998, enquanto nos Estados Unidos o desemprego aumenta a cada dia.

            E quais são os motivos para essa blindagem tupiniquim? A primeira delas é a estabilidade econômica do país que já dura desde os tempos de Fernando Henrique, passando pelos dois mandatos do presidente Lula. Essa estabilidade é o mínimo que qualquer país sério deve garantir em sua economia.

            Porém, esse não é o principal motivo. Somente a estabilidade econômica não seria suficiente para conter tal crise. O que nos garantiu essa bela resistência à crise econômica mundial foi o crescimento do mercado interno, através, principalmente, do grande aumento da classe C (de 36% para 46% da população) brasileira e conseqüente diminuição das classes D/E (de 46 para 39%).

            Foi o mercado interno que nos garantiu evitar o ciclo vicioso de: diminuição do consumo, que gera diminuição da produção, que gera desemprego, que gera diminuição do consumo e assim por diante. Graças ao mercado interno conseguimos manter um nível razoável de consumo e produção.

            E o que gerou esse fortalecimento do mercado interno? Simples. A política de aumento salarial, uma política de contratação e valorização dos servidores públicos e, principalmente, os programas sociais, sobretudo o Bolsa Família. Sim. É o Bolsa Família o carro-chefe desse inchaço da classe C brasileira. Crescimento esse que permitiu que conseguíssemos agüentar a crise mundial de forma satisfatória. Que ironia. O Bolsa Família que era tratado como projeto assistencialista agora serviu para salvar àqueles que tanto o criticavam (classe média, empresários, etc).

            Outro fator contribuiu também, mesmo que em menor escala, para essa blindagem. A diversificação do leque dos países com os quais comercializamos fez com que o setor exportador da nossa economia (o mais afetado pela crise, sem sombra de dúvidas) conseguisse sobrevida, pois nossas exportações não ficam dependentes apenas de um seleto grupo de países como outrora. Isso dar maior poder de resistência ao setor exportador.

            Vemos, com isso, que, além da citada estabilidade econômica, é graças a política de distribuição de renda e de combate ao desemprego que o Brasil consegue, de certa forma, resistir bem a essa crise. Fiquemos, portanto, atentos ao desenrolar da mesma, porém não mais desesperados como teria sido em outros tempos. Graças a nossa blindagem.

 

Por Hugo Araujo

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O circo dos horrores da tragicomédia brasileira

O país inteirou viu atônito a tragédia que ocorreu no estado de São Paulo. Uma menina e sua colega ficaram na mão de um ex-namorado lunático por vários dias. A mídia não perdeu tempo. Encheu os telejornais e sua programação com o tema, numa clara utilização da dor alheia, do desespero alheio em prol de seu mercado, de seu comércio, de seus lucros, mais especificamente. E tudo isso usando ainda o argumento de ser em nome do “dever cívico”, da “caridade”. Patético. Não se podem ignorar os erros da polícia, a conivência dos pais, que deixaram uma menina de 12 anos namorar um homem, mas esses absurdos já foram muito bem explorados (em todos os sentidos) pela mídia tupiniquim.

É importante frisar a forma medíocre como a mídia explorou esse, e tantos outros, acontecimento lamentável. A mídia utiliza-se do sofrimento alheio para vender “seu peixe”, não se importando nem um pouco com a dor de familiares, de amigos e das próprias vítimas.

A mídia não se preocupou também em contribuir para a melhor resolução do caso, assim como em diversos outros. Ao contrário, a “onipresença” da mídia só atrapalhou a ação dos policiais. O delinqüente deu diversas brechas para ação dos policiais. Por que não agiram? Simples. Dentre outros fatores, a mídia presente atrapalhou qualquer ação policial.

Sem falar que a mídia contribuiu, inclusive, para a diminuir o problema e para tentar, digamos assim, inocentar o bandido. Falaram da relação dele, enfatizaram que ele era ex-namorado e que não tinha suportado o término do namoro; fizeram, ainda, entrevista com pessoas próximos ao ex-casal falando de como ele era uma pessoa boa e pacífica e, para completar a tragicomédia, fizeram entrevistas com o bandido com transmissão ao vivo.

Além de usar do sofrimento alheio, de dificultar a ação policial e de relativizar o crime, a imprensa ainda utiliza-se da bondade, e ingenuidade, de boa parte da população brasileira. As pessoas assistiam a esse circo dos horrores com dó das meninas e dos familiares, por exemplo, sem perceber que estavam sendo manipuladas e sendo usadas como mero consumidor desse circo dos horrores, circo esse que, diga-se de passagem, é bastante lucrativo para a mídia em geral.

É de se lamentar a atuação da grande mídia brasileira no caso e mais lamentável ainda é saber que essa não é a primeira e nem a última vez em que a mesma atuará dessa forma. Ao contrário, tal postura é padrão na nossa imprensa. E ela, entre uma novela e um reality show, não vê a hora da próxima tragédia para retornar com seu circo dos horrores.

Por Hugo Araujo

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O ÚLTIMO DOS MOICANOS

As últimas eleições consolidaram uma tendência já verificada há quatro anos. O encolhimento do antigo PFL. Nas últimas eleições municipais, eles perderam diversas prefeituras no Nordeste, seu tradicional reduto. Após isso, perderam o governo da Bahia. E agora, o carlismo foi derrotado em Salvador com seu maior representante ficando de fora do segundo turno.

As eleições municipais de 2004 já demonstravam uma queda da representatividade dos pefelistas, sobretudo no Nordeste. Diversas prefeituras, dentre elas, a capital cearense, foram vencidas por partidos de esquerda diminuindo a influência pefelista na região. E no país, de uma forma geral, houve uma redução considerável do número de prefeituras do PFL.

Na eleição de 2006 (eleições estaduais e federal) a tendência se confirmou, o carlismo foi derrotado de forma inesperada e avassaladora. As pesquisas apontavam uma vitória dos pefelistas no primeiro turno contra Jacques Wagner, porém o que ocorreu foi justamente o contrário, o petista foi quem venceu no primeiro turno. Ali já se demosntrava claramente a diminuição drástica que sofriam os atuais democratas. Dos governos estaduais (e distrital) só venceram no Distrito Federal muito mais pela força política pessoal do Arruda do que pela força do partido.       Nessas eleições foi ainda pior. Os democratas não venceram em nenhuma capital do país no primeiro turno. Em Salvador, antigo QG do carlismo, foram humilhados com seu maior representante, ACM Neto; ficando, assim, de fora do segundo turno na capital baiana, algo inesperado tendo em vista a força política de ACM Neto especificamente e do carlismo de uma forma geral.

Só restou SP. Na cidade paulistana, os democratas ganharam sobrevida graças a José Serra. É bom que se diga isso. Kassab só existe, politicamente falando, graças ao PSDB e, mais especificamente, a ala serrista dos tucanos. Senão fosse isso, os democratas nem existiriam na cidade.

Assim, o país vê o fim de um ciclo. O fim de uma era de coronelismo, da forma mais retrógrada de se fazer política. Os democratas estão desaparecendo do mapa político brasileiro. E isso é, de uma certa forma, um grande avanço para a política nacional.

Para os tucanos, porém, o sumiço dos democratas preocupa. O antigo PFL é o principal aliado do PSDB nacionalmente. E com o desaparecimento político do DEM, o PSDB vai precisar buscar novos aliados ou irá ficar isolado, perdendo, assim, espaço no cenário nacional. Até mesmo por que o PMDB parece finalmente ter se posicionado na política nacional. Virou, de fato, da base governista e aliado do PT. O futuro do cenário político nacional só o tempo dirá. Uma coisa é certa: Os democratas deixaram de ser um dos principais partidos do país. Basta saber quem vai substituir, se é que alguém vai, o partido como membro do G4 da política nacional.


Por Hugo Araujo

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A crise econômica e a incoerência de Veja


Vivemos hoje, como se sabe, uma das piores crises econômicas dos últimos tempos (provavelmente a pior desde 1929). As conseqüências desta crise são imprevisíveis, podendo ser avassaladoras. Para evitar o efeito dominó que ocorreu em 1929, o governo norte-americano lançou um super pacote econômico de socorro aos bancos, o que contraria a visão neoliberal da idéia de livre-mercado, de lasseiz faire, de não-intervenção do Estado, tão propagada nos últimos anos por diversos meios-de-comunicação, dentre eles, Veja que, contraditoriamente, apoiou o pacote intervencionista.

            Por que contraditoriamente? Ora, Veja é conhecida pelo combate ferrenho ao Estado, seja qualquer um. Faz campanha, condena, faz até mesmo mudanças editoriais em relação a forma como se escreve a palavra, visando fortalecer a idéia de uma economia sem Estado (como se isso fosse possível). Para Veja, Estado não mais, após essa cômica mudança editorial, se escreve com “e” maiúsculo e sim com “e” minúsculo. Portanto, uma revista que sempre lutou contra qualquer tipo de participação estatal na economia, não poderia apoiar uma das maiores, senão a maior, intervenção estatal nas duas últimas décadas, certo?

            Errado. O inimaginável ocorreu. Veja lança um exemplar de sua revista onde já na capa faz idolatria a intervenção estatal: “eu salvei você” dizia a manchete em letras garrafais com um gigantesco Tio Sam apontando com as mãos cheias de dólares. Nem é preciso dizer que a própria idéia de salvação é uma farsa, uma falácia (como quase tudo na revista), mas o que mais assusta é a contradição escandalosa que a revista demonstra na edição em questão. Defende com veemência aquilo que mais combateu nos últimos anos, a intervenção estatal. Os neoliberais já não são mais os mesmos.

Não que exista algo de errado na intervenção estatal, muito pelo contrário. Mas um pouco de honestidade intelectual e ideológica não faz mal a ninguém. Porém, pedir isso a quem mente, inventa e distorce a todo o momento, é pedir demais. Vale ressaltar que a contradição de Veja não é nada mais que o reflexo da contradição do sistema, da ideologia neoliberal, da idéia de lasseiz faire econômico.

Com essa crise, a visão diabólica do Estado começa a perder força de novo. Percebe-se que sem um Estado forte que seja capaz de regular, e intervir, o mercado entra em colapso (mais cedo ou mais tarde), ou seja, a auto-regulagem, a “mão invisível” do mercado (que já foi negada há muito tempo) não existe, é uma farsa. E nisso até os neoliberais, atualmente, concordam.


Por Hugo Araujo

sábado, 27 de setembro de 2008

O FENÔMENO LULA - PARTE 1


Popularidade:

 

           

O Lula é um fenômeno. E a última pesquisa de popularidade prova isso. Para entendermos esse fenômeno, começaremos pelo que melhor o comprova, a sua popularidade. A última pesquisa de opinião sobre o governo Lula apontou que 64% da população consideram o governo ótimo ou bom e 28% consideram-no regular. Somente 8% da população brasileira considera o governo ruim ou péssimo.

            E para completar, pela primeira vez, o governo Lula conseguiu aprovação de mais da metade da população em todos os seguimentos sociais, de escolaridade e geográficos do país. Ou seja, em qualquer classe social ou em qualquer grau de escolaridade que se analise ou em qualquer região do país, mais da metade o aprova. O que faz cair por terra o argumento ardiloso e preconceituoso da grande mídia de que só pobre e burro aprova o atual governo.

            Para termos uma idéia, já estamos na metade do segundo mandato de Lula e todos sabemos que um governo tende a se desgastar ao longo do tempo. Ainda assim, o atual governo bateu o recorde de popularidade, que já era seu. E se compararmos com os outros governos é uma verdadeira covardia. A maior aprovação do governo FHC foi de 47%(em 1996), Itamar teve como recorde 41%(fim do mandato) e Collor só chegou apenas a 36%. A vantagem de Lula para o FHC é de 17%. A vantagem em relação aos demais é ainda maior (23% em relação a Itamar e 28% em relação a Collor). E um fato que deve ser levado em consideração é que o governo Lula foi único dentre os governos avaliados que teve avaliação positiva da maioria da população. E agora, tem a aprovação da maioria de qualquer segmento social e geográfico do país.

            E tudo isso ocorre mesmo com toda a campanha contrária da grande mídia, seja de forma direta como a Veja ou indireta como a Globo, dentre outros. Nada disso adiantou. Lula faz um belo governo e, por isso, sagrou-se como o presidente mais bem avaliado da História recente do país. E será difícil superá-lo. Apesar de muitos (entenda-se: grande mídia e elite) o ironizarem, debocharem, na grande maioria das vezes de forma preconceituosa (por mais que tentem negar, é preconceito de classe) por conta do seu passado e pelos seus erros de português, a sua popularidade continua a se superar cada dia mais.

Por esse motivo, e por diversos outros, vemos hoje surgir no Brasil um verdadeiro estadista. Esse é o nosso atual presidente, Luís Inácio Lula da Silva. Aos críticos, repete-se (anotem aí): Lula é um estadista, na melhor acepção da palavra. E a História, sempre ela, se encarregará de assim o colocar, como fizera com outros que foram achincalhados, atacados e desprezados. Quem viver, verá.

 

Por Hugo Araujo
 
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