quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O circo dos horrores da tragicomédia brasileira

O país inteirou viu atônito a tragédia que ocorreu no estado de São Paulo. Uma menina e sua colega ficaram na mão de um ex-namorado lunático por vários dias. A mídia não perdeu tempo. Encheu os telejornais e sua programação com o tema, numa clara utilização da dor alheia, do desespero alheio em prol de seu mercado, de seu comércio, de seus lucros, mais especificamente. E tudo isso usando ainda o argumento de ser em nome do “dever cívico”, da “caridade”. Patético. Não se podem ignorar os erros da polícia, a conivência dos pais, que deixaram uma menina de 12 anos namorar um homem, mas esses absurdos já foram muito bem explorados (em todos os sentidos) pela mídia tupiniquim.

É importante frisar a forma medíocre como a mídia explorou esse, e tantos outros, acontecimento lamentável. A mídia utiliza-se do sofrimento alheio para vender “seu peixe”, não se importando nem um pouco com a dor de familiares, de amigos e das próprias vítimas.

A mídia não se preocupou também em contribuir para a melhor resolução do caso, assim como em diversos outros. Ao contrário, a “onipresença” da mídia só atrapalhou a ação dos policiais. O delinqüente deu diversas brechas para ação dos policiais. Por que não agiram? Simples. Dentre outros fatores, a mídia presente atrapalhou qualquer ação policial.

Sem falar que a mídia contribuiu, inclusive, para a diminuir o problema e para tentar, digamos assim, inocentar o bandido. Falaram da relação dele, enfatizaram que ele era ex-namorado e que não tinha suportado o término do namoro; fizeram, ainda, entrevista com pessoas próximos ao ex-casal falando de como ele era uma pessoa boa e pacífica e, para completar a tragicomédia, fizeram entrevistas com o bandido com transmissão ao vivo.

Além de usar do sofrimento alheio, de dificultar a ação policial e de relativizar o crime, a imprensa ainda utiliza-se da bondade, e ingenuidade, de boa parte da população brasileira. As pessoas assistiam a esse circo dos horrores com dó das meninas e dos familiares, por exemplo, sem perceber que estavam sendo manipuladas e sendo usadas como mero consumidor desse circo dos horrores, circo esse que, diga-se de passagem, é bastante lucrativo para a mídia em geral.

É de se lamentar a atuação da grande mídia brasileira no caso e mais lamentável ainda é saber que essa não é a primeira e nem a última vez em que a mesma atuará dessa forma. Ao contrário, tal postura é padrão na nossa imprensa. E ela, entre uma novela e um reality show, não vê a hora da próxima tragédia para retornar com seu circo dos horrores.

Por Hugo Araujo

 
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