quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

BLINDAGEM À BRASILEIRA

            Hoje o mundo vive um período de extrema crise, uma das piores dos últimos tempos, e como sempre foi de praxe na história de nosso país, esperava-se que ela chegasse por aqui de forma rápida e com mais força do que tinha aonde surgiu. Isso não ocorreu. E quais são os motivos para isso não ter acontecido? 

            Antes de enumerá-los é necessário que fique claro que não se pretende nesse texto afirmar que a crise não teve, e não terá, conseqüências na economia brasileira. É óbvio que já teve e que provavelmente terá ainda mais.

            Por outro lado, é inegável que enquanto a crise está a mil por hora nos Estados Unidos, no Brasil ela não teve por enquanto graves conseqüências. A prova disso é que o desemprego, segundo o Dieese, recuou 13% mesmo em meio à crise, atingindo com isso o menor patamar desde 1998, enquanto nos Estados Unidos o desemprego aumenta a cada dia.

            E quais são os motivos para essa blindagem tupiniquim? A primeira delas é a estabilidade econômica do país que já dura desde os tempos de Fernando Henrique, passando pelos dois mandatos do presidente Lula. Essa estabilidade é o mínimo que qualquer país sério deve garantir em sua economia.

            Porém, esse não é o principal motivo. Somente a estabilidade econômica não seria suficiente para conter tal crise. O que nos garantiu essa bela resistência à crise econômica mundial foi o crescimento do mercado interno, através, principalmente, do grande aumento da classe C (de 36% para 46% da população) brasileira e conseqüente diminuição das classes D/E (de 46 para 39%).

            Foi o mercado interno que nos garantiu evitar o ciclo vicioso de: diminuição do consumo, que gera diminuição da produção, que gera desemprego, que gera diminuição do consumo e assim por diante. Graças ao mercado interno conseguimos manter um nível razoável de consumo e produção.

            E o que gerou esse fortalecimento do mercado interno? Simples. A política de aumento salarial, uma política de contratação e valorização dos servidores públicos e, principalmente, os programas sociais, sobretudo o Bolsa Família. Sim. É o Bolsa Família o carro-chefe desse inchaço da classe C brasileira. Crescimento esse que permitiu que conseguíssemos agüentar a crise mundial de forma satisfatória. Que ironia. O Bolsa Família que era tratado como projeto assistencialista agora serviu para salvar àqueles que tanto o criticavam (classe média, empresários, etc).

            Outro fator contribuiu também, mesmo que em menor escala, para essa blindagem. A diversificação do leque dos países com os quais comercializamos fez com que o setor exportador da nossa economia (o mais afetado pela crise, sem sombra de dúvidas) conseguisse sobrevida, pois nossas exportações não ficam dependentes apenas de um seleto grupo de países como outrora. Isso dar maior poder de resistência ao setor exportador.

            Vemos, com isso, que, além da citada estabilidade econômica, é graças a política de distribuição de renda e de combate ao desemprego que o Brasil consegue, de certa forma, resistir bem a essa crise. Fiquemos, portanto, atentos ao desenrolar da mesma, porém não mais desesperados como teria sido em outros tempos. Graças a nossa blindagem.

 

Por Hugo Araujo

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