segunda-feira, 6 de outubro de 2008

A crise econômica e a incoerência de Veja


Vivemos hoje, como se sabe, uma das piores crises econômicas dos últimos tempos (provavelmente a pior desde 1929). As conseqüências desta crise são imprevisíveis, podendo ser avassaladoras. Para evitar o efeito dominó que ocorreu em 1929, o governo norte-americano lançou um super pacote econômico de socorro aos bancos, o que contraria a visão neoliberal da idéia de livre-mercado, de lasseiz faire, de não-intervenção do Estado, tão propagada nos últimos anos por diversos meios-de-comunicação, dentre eles, Veja que, contraditoriamente, apoiou o pacote intervencionista.

            Por que contraditoriamente? Ora, Veja é conhecida pelo combate ferrenho ao Estado, seja qualquer um. Faz campanha, condena, faz até mesmo mudanças editoriais em relação a forma como se escreve a palavra, visando fortalecer a idéia de uma economia sem Estado (como se isso fosse possível). Para Veja, Estado não mais, após essa cômica mudança editorial, se escreve com “e” maiúsculo e sim com “e” minúsculo. Portanto, uma revista que sempre lutou contra qualquer tipo de participação estatal na economia, não poderia apoiar uma das maiores, senão a maior, intervenção estatal nas duas últimas décadas, certo?

            Errado. O inimaginável ocorreu. Veja lança um exemplar de sua revista onde já na capa faz idolatria a intervenção estatal: “eu salvei você” dizia a manchete em letras garrafais com um gigantesco Tio Sam apontando com as mãos cheias de dólares. Nem é preciso dizer que a própria idéia de salvação é uma farsa, uma falácia (como quase tudo na revista), mas o que mais assusta é a contradição escandalosa que a revista demonstra na edição em questão. Defende com veemência aquilo que mais combateu nos últimos anos, a intervenção estatal. Os neoliberais já não são mais os mesmos.

Não que exista algo de errado na intervenção estatal, muito pelo contrário. Mas um pouco de honestidade intelectual e ideológica não faz mal a ninguém. Porém, pedir isso a quem mente, inventa e distorce a todo o momento, é pedir demais. Vale ressaltar que a contradição de Veja não é nada mais que o reflexo da contradição do sistema, da ideologia neoliberal, da idéia de lasseiz faire econômico.

Com essa crise, a visão diabólica do Estado começa a perder força de novo. Percebe-se que sem um Estado forte que seja capaz de regular, e intervir, o mercado entra em colapso (mais cedo ou mais tarde), ou seja, a auto-regulagem, a “mão invisível” do mercado (que já foi negada há muito tempo) não existe, é uma farsa. E nisso até os neoliberais, atualmente, concordam.


Por Hugo Araujo

Um comentário:

Camilla disse...

Talvez muitos pensem que ainda vivam uma era fisiocrática quando na verdade, vivemos um mercantilismo pós moderno, que se traveste com o nome de neoliberalismo..
Enfim, está uma verdadeira esculhambação..

 
Site Meter